sábado, 28 de agosto de 2010

Despretensão à francesa

Dentro de 15 dias estarei embarcando novamente pra Paris. Em setembro de 2009 comecei o primeiro ano do mestrado em Historia da Alimentação na cidade de Tours na França. E voltei pro Brasil em junho de 2010, dia 19, pra passar as férias francesas.

A sensação de ir agora é bem diferente daquela de um ano atras. Segundo as minhas expectativas, as lagrimas não chegariam a abalar a realização de um sonho tão grande e que me acompanhava por tanto tempo. Durante muitos anos, eu sonhei morar em outro pais. E durante alguns anos, na minha imaginação, eu morei na França. Eu sonhava em entrar naquelas padarias despretensiosamente lindas e pedir um simples croissant (em francês, claro). Eu me perguntava como seria a incrivel sensação de caminhar despretensiosamente pelas ruas de Paris, de andar de bicicleta vestida de um jeito despretensiosamente elegante. Minto. Naquela época eu ainda não sabia que a França era assim tão despretensiosa. Pelo contrario, o que eu ouvia falar é de uma suposta arrogância e antipatia dos franceses. Para minha surpresa e alegria elas não existiam. Impossivel contar quantas pessoas doces cruzaram meu caminho. Graças a Deus algumas ficaram.

Sim, as lagrimas conseguiram abalar boa parte da alegria da concretização desse sonho. Aprender a ser so e a conviver consigo mesmo é um desafio. Acredito que ninguém esta preparado pra isso, por mais que diga o contrario. Aprendemos a conviver com os outros e isso se torna relativamente facil depois de um tempo. E por isso mesmo, chega a ser cômodo. No meu caso, percebi que os outros é que sustentavam minha auto-confiança, sobretudo minha familia. Longe deles a determinação se transformou em duvida(s). Durante um certo tempo esqueci minhas motivações e, por incrivel que pareça, esqueci de valorizar e sentir o mundo ao meu redor. E então, nesse processo de re-aprender a viver, eu me descobri. Percebi o quanto eu era forte por ter chegado até ali e me lembrei do quanto tudo aquilo significava pra mim. A partir desse momento, aproveitei cada segundo de cada um que se seguiu. E assim, fui sendo feliz. Despretensiosamente. Com lagrimas, sim, mas sem desespero. Voltei a confiar em mim. Defendi minha dissertação de primeiro ano e, de presente, recebi um reconhecimento inesperado. Passei a curtir cada esquina, cada palavra, cada cheiro, cada quitute. Cada ida e vinda de bicicleta.

Por isso, penso que agora o meu lado sonhador (que continua grande) esta muito mais realista. Sou ainda a menina romântica que sonha com Paris e com a vida na França, mas agora acho que sei do que estou falando. Sei que os croissants são uma delicia em qualquer lugar, as padarias, lindas, as ruas e as bicicletas, um charme. Mas agora sei que a França é muito mais do que isso. Muito mais alegrias. E dificuldades. E por essas ultimas espero passar com mais leveza, pois vou mais segura e mais independente. Aprendi um pouco do que sou e do que posso ser.

E pra tudo ficar ainda mais emocionante, dessa vez não vou sozinha. Levo uma das pessoas doces da minha vida comigo: meu chéri. Eba. =)